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Caldeirão ou a Volta dos Mortos Vivos... 1, 2 e 3

Ontem, tive um dia especial e divertido. Fui almoçar com meu irmão e meus sobrinhos. Rimos um bocado. Afinal, era a minha missão solidária e fraterna fazer rir naquele momento. Uns goles de bom vinho ajudaram a relaxar um pouco. Quando saímos - o restaurante estava cheio, levantei da cadeira, virei, fiz um quatro e, lógico, como o povo da outra mesa ficou olhando, fiz uma graça a mais, subi os braços tipo Ioga e respirei fundo, como se estivesse meditando ou pedindo alguma benção, e seriamente. Depois, desci os braços olhei bem para eles e disse: também faço um oito. Imaginem a gargalhada!

Depois do almoço, tomei um bom café aqui em casa, peguei a bicicleta que ajuda a queimar calorias e no pedal, fui até o bicicletário do metrô que é uma mão na roda.

Algumas estações depois, estava na Paulista, no meio daquela confusão de gente que canta, grita, rockeia, xaxadeia, emepebeia, umbandeia e toca violão, pistão e surdo... Eis que, do nada, la vem o Papito, de bermudinha abrindo passagem para uma manifestação em prol da diversidade migratória seja lá isto o que for. E, quando você pensa que já viu de tudo nesta vida, um cheirinho de formol foi tomando conta da zona do agrião e ninguém no entorno tinha cara de "vaca amarela", se bem me faço entender... Não demorou muito para descobrir que com ares de retumbância e panfletos na mão entram em cena, ressurgidos, os TFP, (terno, gravata e tudo que os caracteriza), escoltados por uns religiosos e mais um caminhão do qual gritavam palavras de ordem contra a liberação do aborto e o "bispo molenga que não toma posição nenhuma".

Ainda bem que já tinha feito a digestão

2

Indiana Zones ou Surfando na Rebouças

Assim é que se não as encontrar até às 7 horas eu não poderei ir. Procuro mais um pouco. Sei que estão por aqui pois as portas estão trancadas. Já a caminho, informo o nome da estação em que estou. Uma outra vez, informei em Inglês, mas foi ao meu irmão, que por não conhecer o destino de nome indígena, respondeu em Inglês: may I ask where it is? Sorri, só de imaginar o que teria pensado: praia, cidade do interior, hotel... Sei que ele perceberia se tratar de um enigma...

Já, informo que estarei chegando na estação combinada. A resposta vem imediata: Saindo para lhe buscar. No carro, conversamos animadamente sobre um pão australiano que há duas semanas lhe havia presenteado. Era uma retribuição a um outro mimo que me havia ofertado: três Wandas enormes!

Deitado sobre o tatame, o trabalho começa. Lembro do contorcionista que entra e sai de uma caixa pequena. Logo, suas pernas se arqueiam e, por trás delas passam as minhas. Meus dois calcanhares, com a ajuda de suas cuidadosas mãos, se tocam na altura de seu umbigo. Uma trança. Respiro profundamente...

Duas horas depois estou de volta. O ar condicionado do vagão me incomoda muito mais do que o forte perfume dos desodorantes dos usuários... Um jovem rapaz me oferece seu assento. Seu exemplo é seguido por outros dois dando lugar a um casal de idosos. Eles todos sorriem...

No quiosque, o pacote de biscoitos de polvilho é muito grande, e, biscoito de polvilho que se preze é Globo ou Praiano. Devoro um pacotinho de 30 gramas quase sem respirar, babando, memória da infância na praia do Canal 3; mas 180 gramas, é um pouco demais, passo adiante...

Subo na 1158, ora, você já a conhece; e, algumas pedaladas depois abro o portão verde e recolho um galho de hortelã para o chá que me fara companhia até que o vidraceiro chegue para um orçamento.

Depois de tomar banho, às 11:59, o concerto do meio dia como trilha sonora, preparo o almoço. Depois o cinema. Juro que me esforçarei para não dormir durante a sessão. Será um grande desafio pois que não raro, em dia de Tailandesa, durmo vinte e quatro horas seguidas, e lá se vai o sábado... Dormi, assistia a fragmentos e embriagado pelo sono, juntava com os fragmentos que lembrava da versão mais antiga do filme. Elementar meu caro Watson, era o Expresso Oriente. Os créditos sobem, eu me levanto, desço três degraus, enfio as mãos no bolso e, onde é mesmo que estão as minhas chaves?

Agachados, eu e mais um casal iluminamos o chão de nossas poltronas, mas, qual o que. Nada havia ali. Procura-se: chave do portão de casa, chave da porta de casa, e chave do carro, que esta custava quinhentos reais, me disse o chaveiro, já contabilizando os lucros. Acordados, ele se dispõe a me levar na garupa de sua, digamos, motocicleta, para vir até em casa, abrir as portas, onde, com sorte, encontraria as chaves sobressalentes. Encontrei, menos a do carro.

O percurso ida e volta, incluía as muitas subidas e descidas da Consolação, Rebouças e Francisco Mourato, claro, entre os carros. O coração se desloca para a boca enquanto o enorme capacete que visto bate no capacete do chaveiro a cada brecada. Respiro profundamente... Penso em Indiana, Indiana Zones em todos os contextos que sua imaginação mandar inserir o trocadilho, lógico, lembrando da trilha sonora...

Casa completamente revirada, fazemos uma pausa. “O senhor aceita um café?” tento ser gentil com o homem que até então se demonstrou solícito e atencioso. Um café!!! Exclamo gritando. Foi sim, no café do cinema que deixei o molho de chaves. Voltamos, desta vez, garoando, o coração me disse: “o seu eletrocardiograma está zero bala, avante!”.

Estava lá sim. A esposa do chaveiro, antes de nossa chegada buscara o molho de chaves na cafeteria. Contente, abro o carro e volto pela Augusta, que esta surpreendentemente vazia para um sábado à noitinha. O baile seguia calmamente na gafieira...”tudo vai bem mas eis que então que de repente, um pé subiu e alguém de cara foi ao chão”. Era um motoqueiro, saiu do nada, fêz uma curva, levou meu parachoque, mas, não caiu. Até parou um pouco mais adiante. Olhou o estrago e disse que estava errado e pagaria. E, desde quando motoboy, ele era um, tem dinheiro para pagar franquia? Ele diz, que não tem. Ainda assim, com calma e com respeito, anoto seus dados. Diz que mora na Groenlândia, mas a chapa da moto é de Taboão da Serra! A mentira tem sim pernas curtas...

Guardo o carro e sigo direto para onde eu deveria ter ido antes: a minha cama.

Acordo bem mais tarde que o de costume, é Papai Noel me informando que vai trazer sim o Pleasure Beach de Syl Labrot, um mais-que-ícone da fotografia dos anos 60! Um refinado emblema de uma época. O nome do Papai Noel, é Edie Freedman, uma ex-colega de classe, que fotografa muito, mas, muito melhor do que eu, o que, na verdade, não é muito difícil, razão pela qual, entende melhor o que eu faço. Muito contente por ter acordado com saúde, um privilégio!