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Em torno da fotografia e do significado dos nomes

Texto publicado no catalago da exposição de Renata Castelo Branco na galeria Nara Roesler, 2002

Há algum tempo, finalizando um artigo sobre Arte e Tecnologia para o Caderno 2 do jornal O Estado de S. Paulo, escrevi: “Afinal, o que há de novo sob o sol que nos protege e pune é a Graça com que se renovam nossos mais ancestrais relatos”. Tentava então, reconhecer a “sonoridade” de alguns relatos que, por suas qualidades melódicas, não dizia respeito à música como a conhecemos simbolicamente. Tratava de descrever um sentimento que parecia pertinência de uma outra dimensão.

A dimensão única da poesia, esfera da sinestesia, universo em que som, imagem e toda sorte de aromas associativos se podem fundir num só percepto.

Esses “acordes”, aqui configurados em prata e precisão matemática, em que tempos diversos são transportados para um sem-lugar ou data de todas as memórias, parecem ser o termo equivalente à descrição das sensações que buscava. São fotografias de Renata Castello Branco.

Elas encontram seu denominador comum no tempero de um olhar destemido que, em sua ação qualificativa e vigor singular, as expulsa dos limites de uma cartografia de sentido divisor denominativo, Baú de Ossos e Atacama, para se conjugar em harmonia uníssona, detonando toda sorte de sabores. Trata-se de um acalanto. Sentido háptico.

E, se por verdadeira ventura em Baú de Ossos, encontrarmos vestígios dos traços de Flávio de Carvalho a descrever a morte; em Atacama, se nos dermos a oportunidade de dialogar com a intrincada copa das árvores secas e seus troncos, poderemos também ativar relações associativas de similaridade que tangenciam o superlativo The Passsing de Bill Viola, em que seqüências videográficas alternam-se entre o nascimento de seu primeiro filho e a morte da velha árvore: sua mãe. Gente do mesmo quilate e timbre.

Gente que transita pelos domínios universais do Museu de Tudo e de João Cabral, que faz emergir de outras letras os territórios dos “Vazios do Homem”. Testemunhas da florada em meio à aridez da seca. Singela possibilidade de se abrir um “caderno novo”. Renascer. É este, afinal, o âmago de todas as questões fotográficas: a redenção do instante na imagem impressa.

VERÃO DO NOVO MILÊNIO
Prof. Dr. Luiz Guimarães Monforte