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Viva Maria Martins ou Não Esqueça que Eu Venho dos Trópicos

- Ah! Então foi o senhor? Sabe que o meu colega repartiu o saquinho das amêndoas que o senhor esqueceu no carro dele com os colegas do ponto.
- E gostaram?
- Sim, muito gostoso.
- Obrigado e boa noite de descanso e, se puder me fazer o favor de esperar até que eu entre em casa, agradeço.

Explodindo de alegria desço do carro. Acabo de assistir ao belíssimo documentário "MARIA - NÃO ESQUEÇA QUE EU VENHO DOS TRÓPICOS" sobre a soberba e eloquente obra da escultora brasileira Maria Martins.

Dentre as muitas surpresas que o filme revela: a doação que a escultora fêz de uma das mais significativas pinturas da série Boogie Woogie de Piet Mondrian, a primeira tela do pintor a pertencer ao acervo do Museu de Arte Moderna de New York. Com sua atitude a escultora deu visibilidade à obra de Mondrian, que hoje alcança preços astronômicos no mercado de Arte e é um dos principais catalisadores de público para o museu. O documentário, sublinha o risível fato de o Conselho do Museu ter relutado em aceitar a doação, fato contornado pelo simples fato de que era uma doação da senhora embaixatriz do Brasil nos USA.

Outra surpresa: a descoberta de ter fotografado "Maria" nos anos 70! No Philadelphia Museum of Art, (onde esta a maior coleção das obras de Duchamp). Primeiro como Yara, através do Grande Vidro de Marcel Duchamp, que por sua vontade, deveria estar em frente àquela janela onde, ao longe, se vê a escultura.

Já era tarde quando um segurança do Museu, veio me advertir que era proibido fotografar o que se via através dos buracos da grande porta de "Étant donnés". Então, se procurava manter o enigma.

Anos mais tarde, inclui a fotografia em uma das caixas da exposição que realizei no MIS/SP: "Gilgamesh". Era um quadro de folha inteira onde eu aparecia caminhando nú em direção a uma floresta, como se tivesse saindo ou vindo do cenário de "Ètant donnés". Este trabalho, pertence ao acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo, e foi mostrado apenas uma vez, em exposição curada por Helouise Costa sobre imagem e palavra."(...) aquela lamparina me parecia indicar um caminho cheio de mistério para compor a exposição(...)", me disse ela, um dia...talvez, nem soubesse do que se tratava.

Apreciador atento, nunca fotografei o banal, antes, o que a vida e o espírito liberto não deixavam passar desapercebidos diante do meu ser e seus olhos.
Dois nus em diálogo afetivo e justaposto em um tempo interno de cada um e tão universal em suas particularidades.
Hoje, vou andando mais contente.
Obrigado, Maria, a única das Artes: MARIA MARTINS!

PS.: A direção do documentário sobre Maria Martins tem assinatura de Ícaro Martins