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Um presente para os fotógrafos ou a mentira tem pernas curtas

Ensaio comemorativo dos meus 70 anos.

"(...) Você não consegue enganar a todos por longo tempo."
Abraham Lincoln

Fenômeno luminoso natural, A "FOTOGRAFIA" NÃO FOI INVENTADA POR NINGUÉM!

O que aqueles celebrados cientistas, - aclamados como "pais da fotografia" - fizeram, foi SISTEMATIZAR procedimentos luminosos, óticos, químicos, mecânicos e matemáticos.

Tudo é uma questão de estar atento e não engolir qualquer "história da carochinha" em que "mágicos teóricos" sempre colocam as teorias adiante da NATUREZA. Quando o que ocorre é justamente o oposto. NENHUMA TEORIA ANTECEDE A NATUREZA!

A Gruta de Chauvet, e tantos outros sítios arqueológicos catalogados inclusive no Brasil (mais de 5000!), são evidências daquilo que afirmo e reafirmo. Quase uma década antes do esplêndido filme de Herzog, "A Caverna dos Sonhos", eu já me entretinha com as imagens de um belíssimo livro sobre as cavernas de Chauvet, que me foi presenteado pelo amigo e professor da Universidade de Paris 8, James Durand.

No livro, as figurações de cavalos e felinos são impressionantes! Sua anatomia, suas proporções e até mesmo um vislumbre de um sentido de claro/escuro, (chiaroscuro), - que traduz a percepção de modulações de luz e sombra em uma representação, estão presentes naqueles pictogramas multimilenáres. A verossimilhança daqueles representações, em relação ao seu objeto é de tal ordem magnífica que àqueles tempos só teria sido possível por intermediação de uma CAMERA OBSCURA: uma sala escura tangida por uma nesga de luz, que traz consigo toda visão daquilo que esta por fora da caverna de modo invertido, tal e qual as imagens formadas em nosso cérebro.

Há muitas outras cavernas que são evidencia do que digo. E, se você tiver sorte de entrar em uma CAMERA OBSCURA natural, lhe dou de garantia que o deslumbre é palavra pouca para o nobre sentimento que invadirá seu espírito. Encurtando o caminho, sugiro que assista no “youtube” o trabalho com Camera Obscura feito por Abelardo Morell para um documentário da BBC.

Em um evento fotográfico aqui em São Paulo ministrei um workshop de curta duração sobre História da Fotografia, dentro de uma sala que era sim uma CAMERA OBSCURA. Ao serem fechadas as janelas para que se pudesse proceder a uma projeção de slides, as imagens invertidas de toda a rua foram projetadas no teto da sala: árvores, carros, pessoas...Estávamos realmente dentro da História da Fotografia. Novidade para os presentes, não creio terem absorvido o significado daquela situação com a qual me deleitava. Cheguei mesmo a anunciar: “Pronto, o workshop está finalizado”, no entanto prossegui com outras novidades. A fotografia sem máquina, por exemplo, de onde se originaram os primeiros processos de impressão luminosa.

"Milanos" depois, apareceriam máquinas, papéis e filmes industrializados, químicas, laboratórios "prêt-à-porter" e todo um Grand Bazaar em que todas as quinquilharias de uma nova "moda espectral”, - de espectro, com toda a essência funesta do termo - , então já batizada de fotografia, eram comercializadas. Ali eram forjados conceitos mentirosos e também os modos e modas de uma pratica que nada tinha a ver com a retumbante relevância do meio responsável pela maior revolução e evolução do processo de criação, produção e reprodução de imagen, responsável pelo “boom”editorial que conhecemos.Assim, jornais, livros, revistas são sim, produto fotográfico. Conte-se ainda a “intromissão” da fotografia em áreas como a Medicina, Astronomia e tantas outras. A fotografia, trouxe até nós, por meio das radiográfias imagens daquilo que não víamos!

Hoje, quando processos tecnológicos revelam minucias de cada passo dado pela humanidade é preciso cautela na avaliação de quaisquer fatos e feitos que tenham sido celebrados no passado. Análises minuciosas podem sim, revelar mentiras e falsidades à velocidade da luz.

Em documentário da BBC, por exemplo, pesquisadores de alta reputação, revelaram que muitas fotos de Lewis Hine foram falsificadas por um nome que foi celebrado à grande aqui no Brasil: Walter Rosemblum.

Já experimentou, por exemplo "escanear" um filme negativo subexposto e subrelevado? Tente, verá que alguns de seus detalhes não perceptíveis a olho nú, ainda permaneceram naquela tênue superfície, em estado de quase latência.

Na celebração dos meus 70 anos de idade, deixo aqui esta reflexão na tentativa de estimular em todos os profissionias, experts, críticos e historiadores uma possibilidade de revisão de conceitos.

Vou indo contente. Mais por vir. Setenta não é nada! “Aproveita minha gente que uma noite não é nada, se não dormir agora, dormirá de madrugada!” Reformule, renove seus conhecimentos. Simples assim.

E, se por ventura você for usar estas reflexões em suas aulas e outras atividades, pode dizer que são suas, como de costume tenho observado no desrespeito ao direito autoral, principalmente no meio acadêmico e historiográfico. É sim, vergonhoso, mas, já entendi, é questão de caráter, de índole. Uma quase herança cultural de pai para filho.

Luiz Monforte, é graduado em fotografia e artes pela School of Photographic Arts and Sciences do Rochester Institute of Technology. (1980) e Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela FAU/USP – Universidade de São Paulo.(1999).