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Armando Sendim

Endosso a opinião daqueles que afirmam que uma apresentação não deve ser feita por colega, sobretudo nas artes plásticas. Contudo, o sentido da obra de Luiz Monforte é tão contagiante que, logo, à primeira vista, aceitei o encargo. Não pela identidade de meios na obtenção da “relaidade do que é retratado” mas por seu objetivo que o situa num plano de ação, de certa forma próximo ao meu.

Avêsso às situações ou categorias, não quero situá-lo no Trivialismo Emblemático, como oposição às mitologias individuais, mas, essencialmente dentro do espíritocontido no catálogo de Harold Szeeman para: “Quando As Atitudes Chegam À Forma” e que é o de “ler a obra de Arte corretamente, para assim penetrar o âmago, a nítida posição e as atividades que identificam essa posição de acordo com a experiência contemporânea. Embora de 1969, esta exibição, superou os métodos de classificação que tornaram a última Documenta tão vulnerável, invalidando a Arte como comunicação e representação de um mundo, a não ser o mundo do tradicional conformismo.

Assim situado, Luiz Monforte envereda por uma trilha que é uma saída ao rançoso conformismo, já denunciado por Marcuse em 1967: “A real realidade, está se tornando o provável domínio da Arte e Arte, apenas técnica, num sentido literal “prático”; fazer e refazer coisas antes que pinturas (ilustrações)”. Os signos adotados essencialmente, um “S” e uma seta, são manejados por Luiz Monforte com fascinante mestria. Não são pintura ou ilustrações no sentido tradicional da palavra, mas estruturas que não levam ao “outro mundo, a um mundo intermediário, mas ao mundo da realidade, à necessidade urgente de abordar o real com clareza, a tomada de posição oposta ao princípio da “identidade ou não identidade da imagem com o que é reproduzido”. Neste sentido, é vigorosamente oposto ao concretirsmo como “identidade” e ao “conceitualismo”, como “não identidade”. O audio-visual criado a partir do conteúdo gráfico desta exposição, ilustra o que pretendo dizer.

Os signos, no caso de Monforte, não nasceram de uma necessidade atávica de se expressar graficamente, mas, como um imperativo de sua visão filosófica do mundo, o de traduzir os valores por signos nascidos da auto-determinação. Signos criados ao acaso, cujas conotações nos poderiam levar a infinitas indagações. Abstraindo-nos deste propósito, podemos dizer que a grande força na obra de Monforte, é seu poder de estruturação. Nesta mostra, ele a leva às suas últimas consequências mas, num salão anterior (Santo André), fêz questão de propor ao público um meio para seu próprio extravasamento. Não é, em minha opinião, este o ponto alto na proposta de Monforte, amas apenas aquilo que ele próprio expõe ou propõe, uma evolução de sua primeira atitude, exposta no anonimato do 1º Salão de Arte Jovem de Santos. Jã então, como membro do juri deste salão, senti em Monforte, um valor autêntico despontando em nosso panorama artístico, mas faltavam, como faltam em todos os salões, os melhores elementos para julgar definitivamente o valor de ua obra. A presente exposição, tem meios para mostrar esse valor e, o que é melhor, o público ai estará, para julgá-la.

Fonte: Convite da primeira exposição individual. Galeria Girassol, Campinas, São Paulo – apresentada a coleção Reflaxões - 1974