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Monforte a Penetração Icônica

Por Décio Pignatari

Prolifera suporte adentro, vorticalidade da espessura, a alegoria épica barroca de Monforte, a ponto de o suporte, de tal forma adensado e carregado de imagens, não mais poder identificar-se como suporte, pois as imagens é que se apóiam e sustentam em imagens, equilíbrio prensado de corpos acrobáticos deitados, fotogravitacionais, multifário sepulcro arque-lógico e contraditório, sendo o fundo raso como uma película de tridimensionalidade bidimensional, palimpsesto de saturação e afogamento, até que, chamando das profundidades, “pintam” fragmentos de figuras discerníveis, como que, ilusoriamente portadoras de algum significado que nelas não se encontra, estando no que de donde elas provêm, espraiando-se não apenas na superfície de falsos limites, mas invadindo e transbordando para outras técnicas, a fotografia permeando todos os processos de gravura, escrevendo, significando em cima deles, ao mesmo tempo que lança à vista do reconhecível empréstimos de figuratividades perfeitamente pessoais e arbitrárias, ícones que fingem escapar da abstração ao mesmo tempo que jogam com o significado do in-significante e deste com aquele, de que resulta a imposição da obra, em sua coerência imaginária, à consideração decifradora do observador e contemplador, por sua vez produtor de novas projeções ideosensíveis, de modo a acrescentar espessura à espessura, sem interditar o discurso verbal que, explicitando um assim chamado significado, mais não faz do que enigmatizar a resposta, o que assegura a prossecução da arte como suscitadora de sentidos.

Criador de afrescos fotográficos de incontáveis ex-posições e sobreposições que ocultam a técnica fotográfica por detrás das técnicas da gravura, Monforte é um foto-ventríloco de jatos estomacais de tintas fabricadas com a luz eletrônica.

...a sort of atomized paramorphic interrelation, a primordial drive toward representation

Fonte: Cd-Rom - Alegorias Brasileiras